A identificação da humanidade negra é um processo que incide no reconhecimento das práticas coloniais como cerne do racismo no Brasil. Bem como os processos políticos e sociais que passam por avanços e retrocessos, estabelecidos pela conjuntura política e social. Sueli Carneiro (2011) aborda os direitos humanos através de uma análise racializada que reflete no fato de a pessoa negra ainda sequer possuir reconhecimento de sua humanidade.
A hierarquia de raças, cuja premissa não possui nenhum embasamento biológico ou científico, segue manifestada no pleno exercício do mito da democracia racial que se denota quando analisamos os indicadores sociais e os espaços geopolíticos nos quais a população negra está inserida, caracterizando processos de vivências vulneráveis em todos os aspectos sociais. Quanto à violência racial, as populações racializadas, sejam elas negras, indígenas ou cigana-romanis, convivem com as operações do racismo no âmbito intrapessoal, interpessoal e institucional.
O racismo institucional é um fator socialmente determinante, capaz de causar sofrimento psíquico e resultados desiguais para as pessoas negras. Para além disso, pode produzir ou manter a situação de vulnerabilidade dos indivíduos e dos coletivos. Esta prática de racismo pode ser analisada a partir das relações de poder e de cuidado, nos posicionamentos, e nas normas reproduzidas no interior das instituições.
O genocídio, porquanto, se identifica como uma prática do racismo institucional e pode ser observado tanto em seu formato simbólico – no que compete a práticas que geram o sofrimento psíquico – quanto na expressão dos dados de mortalidade e homicídios, vistos pelas lentes que analisam as disparidades entre negros (pretos e pardos) e brancos.
No Brasil, uma pessoa negra tem 2,6 mais chances de ser morta do que uma não negra. Até 2017, houve crescimento permanente dos homicídios de mulheres negras, cuja menor taxa foi de 4,9 por 100 mil habitantes em 2009 e o ápice foi 5,6. As taxas das mulheres não negras, por sua vez, apresentaram melhorias ao longo dos anos, com variação de 3,3 para 3,2 (ATLAS, 2021).
Acreditamos com veemência na potencialidade das respostas dos movimentos às disparidades sociais, quando pensadas estrategicamente e a partir do coletivo. Consideramos também os processos históricos que garantiram as mulheres negras, sejam elas cis ou trans, como protagonistas das transformações sociais que impactam no âmbito social, cultural, legislativo e comunitário.
Ao afirmar que Vidas Negras Importam também afirmamos que existem lacunas que sustentam a desproteção desta população, principalmente no que compete à Segurança Pública. A Aliança Negra pelo Fim da Violência se caracteriza como um processo co-construtivo e que oferece oportunidades de apoio às mulheres negras, estas que mobilizam os territórios nacionais e internacionais para a promoção da equidade racial e o combate às violências em um movimento histórico e insurgente.